Esportes

Prece ao Santo

Quantas vezes eu, e tantos outros, rezamos no cimento frio da arquibancada, diante do radinho ou na frente da televisão, para que você fizesse um milagre e nos proporcionasse a alegria incontida que somente o futebol é capaz de produzir?

Quantas decisões entregamos a nossa sorte às suas abençoadas mãos?

Quantas vezes choramos, de alegria ou tristeza, nas suas intervenções ou falta delas?

Quantas vezes nesse século tivemos alguém tão Torcedor do Palmeiras envergando nossa gloriosa camisa e que nos representávamos dentro de campo?

Quantos optaram pelo clube de coração e o sonho de infância aos milhões de euros da Europa no pior momento da história de seu clube, rebaixado para a série B nacional, fragmentado nas brigas políticas, com deficiência financeira e com poucas perspectivas de dias melhores?

Raros são aqueles que envergam a sagrada camisa Palmeirense por tanto tempo.

De 1992 a 2011 você nos defendeu. Agora é nossa obrigação lhe defender. Não sei se teremos a sua competência, mas a gente se quebra todo. Quebra braço, perna, e até o pescoço se tiver que quebrar nessa porra!

Eu sei que muitos sofrem e estão sofrendo também com o mundo de cabeça pra baixo. Mas, como você falou um dia, São Marcos, não vou ter medo de errar. Se eu errar, foda-se, mas eu vou arriscar.

Eu sempre vou defender quem sempre me defendeu, ou quem defendeu quem ou que amo. São princípios de gratidão que me norteiam. O amor que sinto por certas pessoas, são maiores que ideologias que jogam homens contra homens, povo contra povo e escancaram a miséria humana do lado direito ao lado esquerdo.

Vou sempre lhe enxergar com o meu coração. Porque você sempre me enxergou também por ele. E aqui me permito contar uma confidencia pessoal nossa, que prometi nunca falar. Mas, você, Santo, por favor, me perdoe desde já por quebrar essa promessa. Era necessária. Você tem esse poder de interceder por nós.

Num dos momentos mais tristes e difíceis que já enfrentei até aqui em 40 anos de vida, você me estendeu a mão e o seu coração. Confiou em mim. Estava desempregado, com entes queridos em situação grave de enfermidade, mal tinha condições de comprar os medicamentos, dar continuidade ao tratamento deles, sustenta-los de maneira digna, afastado dos “amigos”, auto-estima baixa, vendo pouca ou quase nenhuma perspectiva para reverter esse quadro negativo, pedindo todos os dias a Deus forças para seguir em frente e me dar entendimento sobre essas provações que recaíram sobre mim.

Eis que toca o meu telefone: “Galuppo, tudo bem? Você pode vir aqui no meu escritório na Barra Funda amanhã na parte da tarde?”, me indaga uma voz familiar e caipira.

Quem está falando? Respondo. É o Marcão, pô. Vem pra cá tomar um café (nossa paixão, além do Palmeiras). Tremia. Respondi que iria, anotei o endereço e desliguei o telefone. Estava ao lado do leito de internação que minha querida e saudosa mãe ocupava no hospital vivendo um processo de coma em decorrência de uma grave doença que a levou do nosso convívio meses depois. Escorreu uma lágrima no meu rosto. Falei no ouvido dela o que havia acontecido. As preces ao Santo foram respondidas. Sai do meu horário de visita direto para a Igreja Santa Cruz das Almas dos Enforcados, no bairro da Liberdade. Acendi uma vela e me preparei para o encontro.

Lá encontrei os amigos Juan, Fernando, Bruno e o Marcos. Eles contaram seu projeto de uma marca de cerveja. E confiaram em mim na produção de algumas ações. O resto é história!

Esse é o Marcos. Um dos raros jogadores do meio do futebol em que convivo e posso chamar de amigo. Qualquer um pode exalta-lo pelas suas mais diferentes facetas. Do homem caipira e suas histórias engraçadas. Do ídolo dentro de campo e suas conquistas. Do comentarista político nas redes sociais. É um direito de cada um.

Eu me permito olhá-lo pelo lado humano que ele sempre me demonstrou, nos anos de convívio que trabalhamos juntos na Sociedade Esportiva Palmeiras e fora dele.

Tive o privilégio e honra de participar do processo de elaboração o do seu filme “Santo Marcos”, listei todos os seus feitos como atleta e ídolos em dezenas de publicações, registrei com pesar todas as suas contusões, com alegria vivenciei todos os pênaltis que defendeu, participei como colaborador nos seus três livros biográficos, fui um dos idealizadores da épica procissão de São Marcos em 2011, por tudo isso e muito mais, peço licença para cometer a heresia de colocar o Marcão no banco de reservas, envergar a sua sagrada camisa 12 e ir a campo em sua defesa contra toda e qualquer maledicência que ousam imputa-lo.

Para essa árdua tarefa, evoco a prece de São Marcos do Palestra Itália, seus 12 mandamentos, e suas palavras na despedida de carreira, para que aqueles de pouca fé possam encontrar, num tempo obscuro e intolerante, um pouco mais de Amor em suas jornadas.

Oração de São Marcos:

“São Marcos de Palestra Itália. Santificadas sejam suas mãos. No gramado e em nosso coração. O gol honrou a cada dia. Como o manto que ama e veste. Perdoe os rivais pecadores. Agora e na hora dos pênaltis. Amém.”

Os 12 mandamentos do Santo São Marcos:

Não serás desleal com teu adversário;

Jamais se curvarás e lutarás, por toda sua vida, contra os malefícios dos Corinthios Gambáticos da Marginal Sem Número;

Não te sentirás melhor do que ninguém;

Honrarás teu manto alviverde, como a ti mesmo;

Amarás o Palmeiras sobre todas as coisas;

Carregarás em suas mãos os corações de milhões de torcedores palmeirenses;

Não trocarás teu amado clube por trinta dinheiros;

Despertarás o respeito da torcida alviverde;

Elogiarás teu próximo sem esperar retribuição;

Liderarás teu grupo mantendo a amizade e o respeito de todos;

Não vestirás outra camisa que não seja o manto sagrado esmeraldino do Palmeiras e da seleção brasileira;

Defenderás a meta palmeirense com todo o fervor de sua alma palestrina!

Trecho das palavras de Marcos no dia 12/12/2012 no seu jogo de despedida, no estádio do Pacaembu:

“Eu queria falar algo especial para a torcida: quando saí de casa, meu sonho era ter sucesso, claro, mas o mais importante era conquistar o torcedor do meu time de criança, que é o Palmeiras. Eu queria que vocês tivessem orgulho de mim, porque eu estava em campo defendendo vocês. Saio de campo realizado e com sensação de dever cumprido. Para mim, foi uma honra vestir a camisa da seleção brasileira e, principalmente, da Sociedade Esportiva Palmeiras. Peço que vocês nunca se esqueçam de mim, porque eu nunca vou me esquecer de vocês. Muito obrigado”.

Marcos Roberto Silveira Reis, somos gratos, devotos e lhe amamos profundamente.

marcos palmeiras

FORZA VERDÃO!!!

 

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