A memória afetiva é uma das jóias mais raras que um ser humano deveria cultivar como um tesouro. É um baú de lembranças que dá sabor e nostalgia a momentos que jamais poderíamos imaginar que teriam alguma importância e que viriam à tona em um certo momento de nossa caminhada.
Palmeiras e Atlético Paranaense, nessas circunstâncias, me remetem a uma partida em especial. Estou com ela grudada a semana inteira na minha mente.
Numa tarde fria de domingo do dia 20 de novembro de 1988, o alviverde recebia o Furacão no estádio Palestra Itália, pelo Campeonato Brasileiro. O contexto era bem parecido com o atual. O Verdão beirando a zona de rebaixamento e os paranaenses no meio da tabela.
O Palmeiras, timidamente, reagia na competição após empate em 1 a 1 e vitória nos penais – o regulamento do torneio previa que em caso de empate um ponto extra era disputado nas penalidades – diante do Flamengo, no Maracanã, onde o goleiro Zetti quebrou a perna numa dividida de bola e o centroavante Gaúcho assumiu a meta, sendo decisivo ao pegar as penalidades dos cariocas e garantindo o ponto extra ao Palmeiras.
Diante do Atlético-PR, a esperança alviverde que – por coincidência – não vencia há cinco jogos, era a estreia oficial do goleiro Ivan Izzo. Nada mais havia de atrativo para aquela agonizante partida, além da paixão clubística.
Como já era rotina, no auge dos meus 9 anos de idade, fui de mãos dadas com meu querido e saudoso pai Francisco Galuppo para o Palestra ver o nosso Verdão se livrar de vez do fantasma do rebaixamento, que mesmo faltando oito rodadas para o final da competição, já rondava vivamente as alamedas do Jardim Suspenso.
Chegando em nosso estádio, o velho placar atrás do gol da curva do Palestra Itália anunciava a nada empolgante formação do alviverde aos pouco mais de 10 mil presentes da seguinte maneira: Ivan Izzo (G), Zanata, Toninho Cecilio, Murillo, Felix, Gerson Caçapa, Silvio, Bandeira, Tato, Gaúcho, Mauro. Técnico: Ênio Andrade. Durante a partida entraram ainda Amauri e Ditinho Souza. Um time equivalente ao dos tempos atuais.
O Palmeiras, como sempre, começou pressionando, e parecia que ganharia fácil. Os primeiros 10 minutos foi um massacre. Mas a falta de qualidade técnica fez com que a partida fosse para o intervalo empatada em 0 a 0. Tato, aos 21min do segundo tempo abriu o placar para o alviverde. Mas a alegria durou pouco mais de dez minutos. Em uma bobeada da defesa, aos 34 min, num bate rebate na área palestrina, surgiu o empate dos paranaenses, levando o jogo para os pênaltis.
Silvio e Bandeira erraram as suas cobranças. O Furacão foi mais eficiente e ficou com o ponto extra. A torcida saiu frustrada e apontando o ponta-esquerda Mauro e o volante Bandeira como vilões. A reação palestrina não veio. Mas, por “mérito” dos adversários, os palmeirenses se livraram da degola e os quatro rebaixados naquela ocasião foram: Bangu-RJ, América-RJ, Santa Cruz-PE e Criciúma-SC.